sábado, 7 de agosto de 2010

A Mitologia Grega - Niso e Sila.

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Minos, Rei de Creta, fazia guerra a Megara, cujo rei, Niso, tinha uma filha, a jovem Sila. O sítio durava seis meses e a cidade ainda resistia, pois estava decretado pelo destino que ela não seria tomada, enquanto um certo cacho cor-de-púrpura, que brilhava entre os cabelos do Rei Niso, continuasse em sua cabeça. Havia, nas muralhas da cidade, uma torre que dominava a planície onde Minos e seu exército estavam acampados, e Sila costumava ir a essa torre contemplar as tendas do exército inimigo. O sítio durava tanto tempo que a moça já distinguia os chefes. Mitros, em particular, despertava sua admiração, com seu porte gentil, ostentando o elmo e o escudo; sua agilidade, combinada com a força, em lançar o dardo; sua maneira de distender o arco, que o próprio Apolo não faria mais graciosamente. Quando, porém, ele deixava o elmo e, envergando as vestes de púrpura, cavalgava o ginete branco ricamente ajaezado que mordia o freio com a boca espumejante, a filha de Niso mal conseguia conter-se; sentia por ele uma admiração frenética. Invejava as armas que ele segurava, as rédeas que sustentava. Tinha vontade de ir, se fosse possível, procurá-lo, através das fileiras inimigas; sentia o impulso de lançar-se da torre no meio do acampamento de Minos, ou de abrir-lhe as portas da cidade, ou de fazer qualquer coisa que lhe desse satisfação. Sentada na torre, assim falava consigo mesma:

— Não sei se devo lamentar ou regozijar-me com esta triste guerra. Lamento que Minos seja nosso inimigo, mas regozijo-me com qualquer coisa que o traga à minha vista. Talvez ele esteja disposto a nos conceder a paz e tomar-me como refém. Eu voaria, se pudesse, para pousar em seu acampamento e dizer-lhe que nos entregamos à sua mercê. Mas trair meu pai! Não! Antes nunca mais tornar a ver Minos. No entanto, não há dúvida de que é bem certo que, às vezes, não há coisa melhor para uma cidade que ser conquistada, quando o conquistador é clemente e generoso. Minos sem dúvida está com a razão; acho que seremos vencidos, e, se tal deve ser o desfecho, por que não lhe abrir as portas da cidade, em vez de deixar que isso se faça pela guerra?
Seria preferível evitar a demora e a carnificina. E se alguém matasse Minos? Ninguém certamente teria coragem de matá-lo; é possível, contudo, que alguém o fizesse, por ignorância, sem conhecê-lo. Vou entregar-me a ele, tendo meu país como dote e pôr fim a esta guerra. Mas como? As portas estão guardadas e meu pai tem as chaves; somente ele se interpõe no meu caminho. Oxalá quisessem os deuses levá-lo! Mas por que pedir aos deuses para fazer tal coisa? Outra mulher, amando como amo, afastaria com suas próprias mãos qualquer obstáculo que se interpusesse no caminho de seu amor. E pode outra mulher fazer mais do que eu? Desafiarei ferro e fogo para conquistar o que desejo. Mas não há necessidade de ferro e fogo. Preciso apenas da madeixa cor-de-púrpura de meu pai. Mais preciosa para mim do que o ouro, isso me dará tudo o que quero. Enquanto a jovem assim refletia, a noite chegou, e em breve todo o palácio estava mergulhado no sono. Sila entrou no aposento do pai e cortou a madeixa fatal; depois, saiu da cidade e entrou no acampamento inimigo. Pediu para ser levada à presença do rei, e assim a ele se dirigiu: — Sou Sila, filha de Niso. Entrego-te meu país e a casa de meu pai. Não te peço outra recompensa senão tu mesmo; foi por amor a ti que fiz isto. Aqui está a madeixa cor-de-púrpura. Com isto, eu te entrego meu pai e seu reino. Estendeu o braço com o despojo fatal, mas Minos recuou e não quis tocá-lo. — Os deuses te destruam, mulher infame! — exclamou. — Desgraça de nosso tempo! Que nem a terra nem o mar te dêem um lugar de repouso! Minha Creta, onde o próprio Jove foi criado, não será poluída com tal monstro! Dito isto, deu ordens para que fossem oferecidas condições razoáveis à cidade conquistada e que a frota partisse imediatamente da ilha. Sila ficou desesperada. — Homem ingrato! — exclamou. — É assim que me abandonas? Eu que te dei a vitória, que sacrifiquei por ti meu pai e minha pátria? Sou culpada, confesso, e mereço morrer, mas não por tuas mãos! Quando os navios se afastaram do litoral, ela se atirou à água e, agarrando-se ao leme do barco que transportava Minos, foi levada como companheira indesejável de viagem. Uma águia marinha voando bem alto — era seu pai, que havia tomado aquela forma — vendo-a, lançou-se sobre ela e feriu-a com o bico e com as garras. Aterrorizada, ela largou o navio e teria se afogado no mar, se uma divindade piedosa não a tivesse transformado em uma ave. A águia do mar conservou a velha animosidade; e sempre que a avista em seu vôo altaneiro lança-se sobre ela, atacando-a com o bico e as garras, para se vingar do antigo crime.

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