segunda-feira, 26 de julho de 2010

A Mitologia Grega - Céfalo e Prócris.



Céfalo era um belo jovem, amante dos exercícios. Levantava-se antes do amanhecer, para perseguir a caça. Aurora viu-o, apaixonou-se por ele e raptou-o. Céfalo, porém, era recém-casado, e amava profundamente sua esposa que se chamava Prócris. A jovem era favorita de Diana, que lhe dera um cão, mais veloz que qualquer outro, e um dardo, que jamais errada o alvo; e Prócris oferecera estes presentes ao marido. Céfalo sentia-se tão feliz com a esposa, que resistiu a todas as propostas de Aurora, que, afinal, o despediu, irritada, dizendo: — Vai, ingrato mortal, fica com tua esposa, a qual, se não me engano, hás de lamentar ter conhecido. Céfalo regressou e voltou a ser tão feliz quanto antes, com sua esposa, — façanhas pelos bosques. Ora, aconteceu que uma divindade irritada mandara uma voraz raposa devastar a região, e os caçadores acorreram, em grande número, para capturá-la. Todos os seus esforços foram em vão; nenhum cão conseguia acompanhar o animal na corrida. E, finalmente, procuraram Céfalo, a fim de que lhes emprestasse seu famoso cão, cujo nome era Lelaps. Mal o cão fora solto, disparou como um dardo, com tal velocidade que a vista não podia segui-lo. Se não tivessem visto suas pegadas na areia, todos teriam acreditado que ele voara. De pé, no alto de um morro, Céfalo e os outros assistiram à corrida. A raposa tentou todas as artimanhas: corria em círculo, perseguida de perto pelo cão que, de boca aberta, investia sempre, mas mordia apenas o ar. Céfalo já ia lançar mão do dardo, quando viu o cão e a raposa pararem instantaneamente. Os deuses celestes, criadores de ambos, não queriam que nenhum dos dois saísse vitorioso. E, em sua própria atitude de vida e de ação, haviam sido petrificados. Tão naturais pareciam, que, ao vê-los, tinha-se a impressão de que um ia latir e a outra dar um salto para a frente. Céfalo, embora tivesse perdido o cão, continuou a deleitar-se com a caça. Saía pela madrugada, vagava pelos bosques e pelos montes, sem qualquer acompanhante, não necessitando ajuda, pois seu dardo era arma segura para todos os casos. Fatigado com a caça, quando o sol ia alto no céu, procurava um abrigo sombreado, junto ao qual corria um frígido regato e, estendido na relva, com as vestes atiradas para um lado, gozava a frescura da brisa. Às vezes, costumava dizer em voz alta: — Vem, brisa suave, vem afagar-me e leva o calor que me abrasa. Alguém que passava um dia, ouviu-o falando desse modo ao ar e, acreditando, por tolice, que ele estivesse falando com alguma mulher, correu a contar o segredo a Prócris, sua esposa. O amor é crédulo. Prócris, diante do choque, desmaiou. Voltando a si, sem demora, disse: — Não pode ser verdade; não acreditarei nisso, a não ser que eu mesma seja testemunha. Assim, aguardou, com o coração ansioso, até a manhã seguinte, quando Céfalo saiu, como de costume. Acompanhou-o, então, furtivamente, e escondeu-se no lugar que o informante indicara. Céfalo apareceu, quando se sentiu cansado da caçada, e estendeu-se na verde relva, exclamando: — Vem, brisa suave, vem afagar-me. Sabes quanto te amo! Tu tornas deliciosos os bosques e minhas caminhadas solitárias! Continuava a soltar estas exclamações, quando ouviu, ou julgou ouvir, no meio do bosque, um ruído semelhante a um soluço. Supondo ser algum animal selvagem, atirou o dardo na direção do ruído. Um grito de sua amada Prócris revelou-lhe que a arma atingira o alvo com precisão. Correu para o lugar e encontrou-a ensangüentada, tentando arrancar da ferida o dardo, que fora presente dela mesma. Céfalo ergueu-a do chão, lutou para estancar o sangue, gritou-lhe que vivesse, que não o deixasse desamparado, recriminando-se de sua morte. Ela entreabriu os olhos e conseguiu murmurar estas palavras:
— Imploro-te, se algum dia me amaste, se algum dia mereci de ti benevolência, meu marido, que satisfaças minha última vontade: não te cases com essa odiosa Brisa! Isto revelou todo o mistério; mas que adiantava revelá-lo agora? Prócris morreu, mas seu rosto tinha uma expressão de calma, olhando com ternura e perdão para o marido, que a fez compreender a verdade. Moore, entre suas "Baladas Legendárias", tem uma sobre Céfalo e Prócris, que assim começa:

Num campo, um caçador repousou, certo dia,
Para do sol se abrigar
E, deitado, implorava a brisa que fugia
O rosto lhe beijar.
E, enquanto assim pedia, a brisa descuidada
Fugia para além.
Chamava o caçador: "Ó vem brisa adorada!"
E Eco repetia: "Ó vem, brisa adorada!"
"Brisa adorada, vem!"

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