segunda-feira, 26 de julho de 2010

A Mitologia Grega - Faetonte [PARTE 2/2]



— Ó pai dos deuses, se mereci este tratamento e se é teu desejo que eu pereça pelo fogo, por que poupas teus raios? Deixa-me, pelo menos, cair por tuas mãos. E esta a recompensa de minha fertilidade, de meus obedientes serviços? Foi para isso que forneci erva para o gado, frutos para os homens e incenso para os teus altares? Mas, se sou indigna de consideração, que fez meu irmão Oceano para merecer tal destino? Se nenhum de nós pode provocar tua piedade, pensa, peço-te, em teu próprio céu e vê como estão fumegantes ambos os pólos que sustentam teu palácio, que cairá, se eles forem destruídos. Atlas fraqueja e mal sustenta sua carga. Se o mar, a terra e o céu perecerem, cairemos no antigo Caos. Salva o que ainda nos resta da chama devoradora. Pensa em nossa salvação, neste momento fatal! Assim falou a Terra, e, vencida pelo calor e pela sede, nada mais pôde dizer. Então, Júpiter onipotente, invocando o testemunho de todos os deuses, inclusive daquele que emprestara o carro, e mostrando-lhes que tudo estaria perdido, a não ser que fosse aplicado um remédio urgente, subiu à torre altaneira de onde espalha as nuvens sobre a terra e arremessa os recurvados raios. Desta vez, porém, não havia uma só nuvem que pudesse ser usada para proteção da terra, nem chuva que pudesse ser lançada. Júpiter trovejou e, erguendo um raio incandescente na mão direita, lançou-o contra o condutor do carro e arrancou-o, ao mesmo tempo, do seu lugar e da existência! Faetonte, com os cabelos em chama, caiu de cabeça para baixo, como uma estrela cadente que marca o céu com seu brilho enquanto cai, e Eridano, o grande rio, recebeu-o e refrescou seu corpo ardente. As náiades italianas ergueram-lhe um túmulo e gravaram estas palavras sobre a pedra:

Aqui jaz Faetonte, que o paterno
Carro ousou dirigir, em vão.
Contudo Honrou-o a nobre audácia de tentá-lo


Suas irmãs, as Helíades, enquanto lamentavam seu destino, transformaram-se em choupos, nas margens do rio, e suas lágrimas, que continuavam a cair, transformaram-se em âmbar, ao atingir a água.

Milman, em seu poema "Samor", faz a seguinte alusão à história de Faetonte:

Como quando o universo horrorizado
Jazia mudo e quieto, quando o filho
Do Sol, dizem os poetas, o paterno
Carro levava por atalhos falsos.
Até que Jove o fulminou, e o mísero
Afogou-se no golfo junto ao qual
As irmãs, os seus ramos agitando,
Por ele choram lágrimas de âmbar.


Nos belos versos em que Walter Savage Landor descreve a concha marinha, há uma alusão ao palácio e ao carro do Sol. A ninfa da água diz:

Tenho sinuosas conchas, ostentando
Os matizes da pérola e que o brilho
Fazem lembrar do majestoso pórtico
Do palácio do Sol.

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